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Boa tarde,Somo as Rádio do Folclore Português,RFP ...
Tenho um pedido de amizade no "Face" por...
Obrigado pela divulgação do portal do Rancho Povei...
Está excelente este trabalho, Mário, principalment...
Os meus Parabens mano pela excelência do trabalho ...
“O mar aos poveiros
Embalou-lhes na espuma a alegre e doce infância.
E rimou-lhes canções d'amor na mocidade,
Deu-lhes na pesca - a vida - e aos filhos a abundância,
Deu-lhes, mais tarde, a morte, e aos filhos a orfandade"
Conde de Sabugosa
Anos 60
Havia borrasca na enseada. O mar encapelado, galgava o porto de pesca, passava a lota e inundava as ruas que estavam no seu caminho, fazendo da Rua 31 de janeiro o seu leito.
Quando mar estava tempestuoso, muito do que nele estava nas entranhas era "vomitado" como se Cronos ali estivesse, vomitando os seus filhos que o mar tinha devorado.
À areia vinha parar tudo, desde bocados dos velhos barcos que ali tinham afundado, como outros objetos, que o mar tumultuoso revolvia nas profundezas, e lançava para fora das suas gárgulas escancaradas.
Sei que me encontrava ali mais o meu irmão mais velho. Outros garotos por ali andavam, vasculhando o areal à procura de moedas ou algo de valor, que as ondas alternosas ali tivessem depositado.
O som do mar bravio era cortado pelos gritos de desespero das pescadeiras poveiras que olhavam o mar onde as pequenas traineiras tentavam a todo o custo entrar na barra.
Quando hoje olho para o mesmo local, o mar bonançoso, sei que muitos de agora, não acreditam que ali houve desespero e morte.
Era uma aflição. Impotentes perante aquela tempestade medonha que se abatera sobre os barcos dos seus “hómes”, rezavam aos santos protetores que os trouxessem sãos e salvos.
O salva-vidas faz-se ao mar tentando resgatar dele, aqueles que devido à força das ondas eram tragados dos pequenos barcos virados.
O mar trazia para a areia não só pedaços de madeira dos barcos ali sepultados, como dos que acabavam de soçobrar.
Saímos dali, não havia condições para ali continuarmos.
"Manhã. Redemoinho de névoa lá no largo; vão chegar as lanchas e os batéis. Uns atrás dos outros à bolina já os distingo muito ao longe. No areal todo de oiro secam redes encascadas, e entre os batéis varados formam-se grupos de mulheres que os esperam. Outras correm. Puxam pelos cabos das lanchas como homens ou carregam a caça que sai do cavername a escorrer. Dois, três barcos já na praia...(...) Mais batéis: é a força da sardinha despejada no areal. Mulheres acodem, o movimento aumenta e os gritos, os gestos, as atitudes imprevistas. Com os dedos metidos nas guelras algumas arrastam os cações sarapintados, as raias espalmadas, os congros ferozes, com a cabeça aberta pelo machado para não morderem a mão que os apanha. (...) – Treze vinténs! catorze vinténs! – o leilão.
Cheira a mar, a peixe e a fartum, e as mulheres curvam-se sobre a pesca e regateiam-na, enquanto em baixo os barcos despejam mais peixe vivo, toninhas, gorazes e a sardinha que começa a alastrar de prata todo o vasto areal. Duas mulheres, de perna, nua e saia arregaçada até ao joelho, engancharam um croque na boca de um peixe-cão e arrastam-no a custo para cima."
Os Pescadores - Raúl Brandão
Era assim no tempo de Raúl Brandão. A venda fazia-se diretamente quando o peixe era descarregado no areal da praia do peixe.
No meu tempo havia já a lota. Os pregões «peixe fresquinhoooo, peixe fresquinhoooo.... » das nossas pescadeiras na venda do pescado, ecoavam por aquele espaço junto à Fortaleza onde uma voz tentava falar mais alto que a outra, mas notava-se uma certa matreirice e um sorriso amigável quando conseguia suplantar nessa venda a amiga adversária.
No fim estavam todas de bem e não me lembro de ver ali, uma zanga séria entre as nossas poveiras.
Era nessa lota que a minha avó abastecia. De canastra à cabeça apanhava a camioneta até Gondifelos, depois ia vender de porta a porta, nem o padre escapava. (1)
Na vinda, trazia a canastra cheia de pão e verduras, quando vinha em excesso, distribuía na "Ilha do Padre" onde morava.
(1) - Chamavam-se "repeteiras" as mulheres que iam vender o peixe às freguesias vizinhas. Quase sempre eram mulheres dos pescadores, o que não era o caso do meu avô. Na minha família não houve ninguém que fosse pescador a não ser por casamento.
P.S. - Agradeço à minha irmã mais velha muito das recordações que aqui escrevo.
Três poveirinhas vestidas à minhota (foto de estúdio). Anos 40.
"Na orla da angra ou enseada de Varzim vive o Poveiro, tipo de pescador original e inconfundível na beira-mar portuguesa... Forte, rude, vive do mar e para o mar."
Santos Graça
Poderia começar pela escrita deste ilustre poveiro, a demanda do povo a que pertenço por terras de Varazim.
Dizem que o nosso povo teve origens num povo nórdico, viking, mas não, antes dos vikings chegarem, já outros povos habitavam esta orla costeira.
Segundo o estudo feito pelo capitão Fonseca Cardoso «O Estudo Antropológico do Poveiro», o Poveiro descende da raça semita de origem cananeana, que viveu nas primeiras idades do Egipto, que fundou Tyro, Sidon, Aratos, Gavira, Carthago... enfim, somos aqueles que por herança nasce, vive e morre pescador.
Mas já não é assim. O Poveiro já não nasce nem morre pescador. O Pescador foi “empurrado” para as Caxinas e, na cidade cosmopolita sobranceira, resta somente uma homenagem àquele que tanto deu de si para salvar os outros... «O Cego do Maio».
A Póvoa do meu tempo modernizou-se, tornou-se uma cidade bonita. Oito anos depois, voltei a vê-la. Admirei-me de não encontrar o bulício de uma cidade que me habituou quando lá ia. O Passeio Alegre (Marginal), a Junqueira local tradicionalmente ligado ao comércio e ponto de passagem onde se encontrava a família, estavam quase desertas. Efeitos da crise ou do vento norte que se fazia sentir.
Mas olho e vem-me sempre à lembrança os bons momentos de menino que ali passei. Era uma terra de pescadores, agora é uma cidade virada para o futuro.
Que continue mas sem esquecer que, um dia, famílias de poveirinhos pela graça de Deus, aportou àquela enseada e foi ali que a Póvoa começou.
Boa tarde,Somo as Rádio do Folclore Português,RFP ...
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